A relação de proteína/creatinina (RPC) na urina é um teste indicado para avaliação de lesão aos glomérulos quando ainda não há evidências clínicas ou até mesmo laboratoriais de patologia no sistema urinário. Infelizmente, a creatinina e a uréia somente se elevam quando 75% ou mais dos néfrons foram lesados, enquanto a RPC aumenta a partir de 25% de comprometimento ao tecido renal. Portanto, este teste pode ser utilizado como indicativo de lesão aos rins em casos iniciais, o que melhora o prognóstico do paciente.
Moléculas de proteína são significativamente grandes para ultrapassar os glomérulos, no entanto moléculas de creatinina são bem menores, passam facilmente e são liberadas em grande quantidade na urina. Fisiologicamente é esperado que a creatinina esteja elevada na urina, mas a proteína não. Quando a quantidade de proteínas na urina encontra-se persistentemente elevada, esta condição sugere lesão glomerular. Assim, quanto mais proteína há na urina, maior a RPC urinária e maior o indício de gravidade na lesão aos glomérulos.
Condições que podem interferir nesta relação, acarretando seu aumento, são as causas de proteinúria pré ou pós-renal, como a existência de inflamação, infecção urinária ou pH alcalino. Infecções urinárias elevam a perda proteica devido ao quadro inflamatório da bexiga enquanto amostras com pH superior a 7,0 apresentam uma proteinúria de artefato.
Algumas drogas também podem interferir na proteína urinária, tais como acetaminofen, aminofilina, aspirina, anfotericina B, ampicilina, bacitracina, captopril, carbamazepina, cefaloridina, cefalotina, corticosteróides, ciclosporina, gentamicina, ferro, kanamicina, rifampicina, tobramicina, tetraciclina, vancomicina, vitamina K.
Portanto, quando se descarta as causas de proteinúria não-renal e estão ausentes hemorragias ou inflamações, a relação proteína/creatinina urinária é interpretada da seguinte forma (Tripathi, 2011):
– RPC < 0,5 é considerada normal;
– RPC entre 0,5 e 1,0 é questionável para proteinúria renal;
– RPC > 1,0 é indicativa de proteinúria renal.
Conclui-se então que, a principal utilidade da relação proteína/creatinina urinária é exatamente sua precocidade no diagnóstico da lesão glomerular e ainda serve como parâmetro de controle da doença renal.
Nota: Para realizar este exame, não é necessária nenhuma preparação especial ao paciente, nem mesmo jejum. O volume ideal de amostra para avaliação é maior do que 6 ml, obtido por sonda ou cistocentese. As amostras coletadas por micção espontânea podem sofrer interferência pela presença de proteínas externas no recipiente por exemplo. Um cuidado importante é o processamento realizado o mais rapidamente possível.
Fontes:
HEINE, R. Diagnóstico laboratorial da doença renal felina. Veterinary Focus, v.18, n.2, p.16-22, 2008.
LANIS, A. B., FONSECA, L. A., ROESLER, T., ALVES, A., LOPES, B. Avaliação laboratorial das doenças renais em pequenos animais. ed. 39. Pubvet, v.2, n.28, 2008.
ROSENFELD, A. J. Sistema Urogenital. In:__. Prática veterinária: uma abordagem didática. São Paulo: Roca, 2009. cap.13, p.173-191.
TRIPATHI, N. K, GREGORY, C. R., LATIMER, K.S. Urinary system. In: LATIMER, K. S. Duncan & Prasse’s Veterinary laboratory medicine: clinical pathology. 5. ed. Chichester: John Wiley Consumer , 2011. cap.9. p. 259.