CITOLOGIA
O exame citológico é uma das grandes ferramentas para auxiliar o médico veterinário no diagnóstico, prognóstico e na tomada de decisões frente a casos clínicos.
A citologia oferece inúmeras vantagens, uma vez que as técnicas de obtenção do material são muito simples, de baixo custo e muitas vezes proporciona resposta diagnóstica rápida, porém como toda técnica, nem sempre o parecer é definitivo.
A grande maioria dos exames citológicos deve ser confirmada por exame histopatológico, devido à possibilidade do material colhido ser pouco representativo e também há restrições quanto à avaliação prognóstica, pois tal exame avalia somente as características de células isoladas ou em blocos, ao passo que o exame histopatológico permite avaliar a arquitetura do tecido como um todo, ou seja, a inter-relação entre células, demonstrando grau de invasividade e avaliação de margens cirúrgicas, para exemplificar: obtenção de amostra somente do componente inflamatório de uma neoplasia infectada por bactérias.
Há três grandes modalidades de obtenção de material para exame citológico:
Citologia Esfoliativa:
Consiste em remover as células mais superficiais da lesão através de esfoliação (raspagem), sendo indicada para avaliação do processo de maturação (diferenciação) de epitélios, para caracterização de tipos de exsudatos ou para visualização de agentes infecciosos ou mesmo parasitários.
Esta técnica é usada, por exemplo, na determinação da fase do ciclo estral de cadelas, de processos inflamatórios uterinos, ectoparasitos, etc.
Citologia por Decalque (“imprint”):
Tal modalidade também baseia-se na remoção de células superficiais de uma lesão ou da superfície de corte de um órgão, através do contado da superfície em questão com a de uma lâmina de microscopia. É uma técnica muito utilizada em sala de necrópsia para confirmação diagnóstica de suspeitas levantadas à macroscopia, com resposta rápida.
Citologia Aspirativa por Agulha Fina (CAAF):
Neste método há remoção das células da lesão pela avulsão promovida através da utilização de uma agulha fina (30 mm x 0,7 mm ou 22G). Com esta técnica podemos obter células de vários planos do tecido.
A citologia aspirativa por agulha fina é, sem dúvida, mais interessante que as técnicas anteriores, pois recolhe material muito mais representativo de lesões profundas.
Devemos seguir algumas regras básicas para obtenção de bons resultados através da citologia:
Histórico detalhado: Estas informações são muito importantes, pois indicam o tempo de instalação do processo, como foi o início da lesão, etc…. Estes dados são muitas vezes fundamentais para determinação de diagnósticos diferenciais ou para comentários relativos aos possíveis diagnósticos.
Descrição da lesão: Uma boa descrição da lesão, como localização precisa do processo e tipo de lesão, (nodular ulcerativa, etc.),características como consistência, cor, irrigação, etc, auxilia de sobremaneira o sucesso diagnóstico e permite correlacionar achados citológicos com a lesão macroscópica;
Técnica de colheita: Este é um dos passos mais importantes para realização da citologia diagnóstica e freqüentemente desconhecido. Uma técnica de colheita inadequada pode impedir a conclusão do caso, pois a amostra colhida deve necessariamente possuir células características da lesão em questão.
Obtenção do material:
A. Realize a contenção física do paciente de maneira adequada e promova a antissepsia;
B. Acople a agulha à seringa;
C. Fixe a lesão com os dedos indicador e médio;
D. Mantenha o êmbolo da seringa na posição ZERO.
E. Introduza a agulha na lesão;
F. Promova uma forte pressão negativa no interior da seringa e mantenha-a (5mL);
G. Promova com a agulha movimentos de “vai e vem” na lesão e em diversos planos diferentes (formando um leque), mantendo a pressão negativa sem permitir que a agulha saia de dentro da massa;
CUIDADO: Não deixe a agulha sair da lesão, evitando assim a entrada de ar na seringa e a sucção das células para o êmbolo da seringa. As células aspiradas devem permanecer até o canhão da agulha.
ATENÇÃO: Sangue no canhão da agulha ou na seringa não deve ser encarado como sinônimo de boa colheita, pois elementos sangüíneos podem diluir as células que representam o processo.
H. Solte o êmbolo da seringa desfazendo a pressão negativa;
I. Retire a seringa e agulha da lesão;
J. Desacople a agulha da seringa;
K. Preencha a seringa de ar e acople novamente a agulha;
L. Com o orifício do bisel da agulha voltado para lâmina de microscopia, empurre o êmbolo depositando o conteúdo contido na agulha contra esta. Faça isto na porção central ou em um dos quartos da lâmina;
ATENÇÃO: O material contido na agulha é suficiente para o diagnóstico. A presença de sangue no material causa diluição da amostra, muitas vezes tornando o exame inconclusivo.
M. Promova a extensão do material encostando uma lâmina sobre a outra
HISTOPATOLOGIA
O exame histopatológico utiliza pequenos fragmentos de tecido, seja de um animal vivo, então denominado biópsia, ou mesmo de um animal que já veio a óbito, quando se realiza uma necropsia.
Há dois tipos de biópsias:
Biópsia incisional:Quando se retira apenas um fragmento da lesão. Pode ser colhida com auxílio de punch ou lâmina de bisturi, sendo que as incisões devem ser precisas, com instrumento afiado, evitando-se o esmagamento do tecido pela pinça e tomando-se o cuidado que uma biópsia muito superficial pode conter apenas material necrótico/inflamatório, não evidenciando as lesões graves adjacentes e subjacentes, tornando muitas vezes o diagnóstico inconclusivo.
Biópsia excisional:Consiste na exérese de toda a lesão, que deve ser circundada por uma margem de tecido normal (margem de segurança), que deve ser encaminhada inteira (peça cirúrgica) ao laboratório, para que o patologista possa avaliar as margens cirúrgicas e características da lesão.
Conservação do material:Imediatamente após a colheita, as amostras devem ser acondicionadas diretamente no líquido fixador, em frascos de boca larga. Nunca utilizar frascos menores que a amostra, evitando-se assim a deformação do material. Os tecido que tendem a flutuar (pulmão e tecido adiposo) devem ser cobertos com algodão ou papel toalha. Nunca acondicionar o material em soro fisiológico ou água.
O fixador recomendável é o formal 10% (1parte de formol para 9 de água) considerando-se o formaldeído a 37% como formol puro (100%).
O volume do fixador deve ser 10 vezes o volume da amostra. O tempo de fixação é de 1 a 2 horas para cada milímetro de espessura de tecido, portanto peças grandes devem ser enviadas ao laboratório com agilidade, para que sejam acondicionadas de forma adequada (volume de fixador e espessura da peça) após avaliação pelo patologista.
Comunicação entre o clínico x patologista
O diagnóstico final depende em grande parte da correlação dos achados microscópicos com os dados clínicos, razão porque o primeiro passo a contribuir para a boa qualidade do exame é a correta e completa informação sobre o paciente e a lesão. Daí a elevada importância do contato entre o clínico e o patologista.
CAAF X BIÓPSIA (vantagens e desvantagens)
CAAF | BIÓPSIA |
Baixo custo | Implica maiores gastos, procedimento cirúrgico |
Nem sempre a amostra é significativa. | Quando realizada adequadamente, fornece farto material ao patologista |
Analisa as células isoladamente | Analisa as células, sua arquitetura e as relações com o tecido normal. |
Origem do processo: inflamatório, degenerativo, neoplásico | Informações precisas quanto à origem do processo, o tempo de evolução (crônico/agudo); etiologia e tipos histológicos envolvidos |
Resultado rápido | Resultado leva mais tempo a sair |
Complicações da punção de órgãos parenquimatosos: infecção, hemorragia | “Tratamento”, biópsia excisional |
Limita-se a diferenciar processos benignos x malignos, e estabelecer a origem embrionária das células | Pode precisar a origem histológica, grau de malignidade, prognóstico e indicações terapêuticas |