Associado aos exames de rotina como hemograma e análises bioquímicas, a causa do seu acúmulo pode e deve ser identificada. É um exame prático podendo fornecer informações valiosas e contribuir para o diagnóstico e prognóstico de diversas doenças.
Amostras devem ser enviadas tubos, com anticoagulante EDTA (tampa roxa) e o tubo seco (tampa vermelha ou amarela). Amostras sem identificação (origem/paciente/clínica) ou sem requisição (dados completos) inviabilizam o início do procedimento podendo comprometer a análise.
Líquidos cavitários passíveis dessa análise são: pleural, pericárdico, abdominal e sinovial.
As amostras devem ser refrigeradas e enviadas o mais rápido possível ao laboratório. Recomendamos a marcação na requisição da palavra URGENTE (não será cobrada para Análise de Líquido Cavitário – MNEMO/Código: ALI)
*Nota: Caso o clínico deseje complementar as amostras, enviar também lâmina do material confeccionada e fixada no momento da coleta.
O volume de água corporal nos animais corresponde a cerca de 65% do peso total. Esta percentagem está mais relacionada com a massa dos tecidos magros; os animais magros possuem maior percentagem de água que os obesos. A distribuição do volume de água não é eqüitativa porque os tecidos e órgãos do corpo contêm quantidades diferentes e características de água. Esta distribuição desigual de água é divisível em dois compartimentos – o líquido extracelular e o líquido intracelular. O líquido extracelular corresponde aproximadamente 24% do volume de líquido total e inclui o plasma (4%), o líquido tissular ou intersticial (15%) e o líquido transcelular (5%). O líquido transcelular é aquele que ocorre nas cavidades corporais, nas vísceras ocas, nos olhos e nos produtos de secreção das várias glândulas. O plasma ou a fase intercelular líquida do sangue contém numerosos e variados cristalóides, assim como proteínas plasmáticas. Os cristalóides não deixam o sangue em quantidades significativas sob condições normais; apenas a água e os cristalóides têm livre acesso aos tecidos conjuntivos. O líquido tissular, portanto, é o plasma desprovido da maioria de suas proteínas características. O liquido tissular que ganha acesso aos capilares linfáticos é chamado de linfa. A linfa não contém quantidades significativas de proteínas, mas as proteínas plasmáticas que adentram o interstício retornam indiretamente para a circulação geral pelos vasos linfáticos. Os metabólitos e o oxigênio devem atravessar o líquido tissular antes de atingir as células. Os produtos residuais do metabolismo atravessam o líquido tissular e são transportados no sangue para os seus locais adequados de excreção (rins) ou troca (pulmões). As substâncias dissolvidas no sangue se movem a favor do seu gradiente de concentração (difusão) de forma aleatória, para fora ou para dentro do compartimento vascular através das fenestras das células endoteliais. A permeabilidade seletiva da célula endotelial impede, exceto por uma pequena quantidade, o transporte de macromoléculas (proteínas) por meio desta barreira. O movimento do fluído e de substâncias é governado pelas relações entre a pressão hidrostática e oncótica que regulam o delicado equilíbrio líquido do organismo. A pressão hidrostática no interior dos capilares move continuamente o líquido e as substâncias nele dissolvidas para o tecido conjuntivo. A perda de líquido do espaço vascular poderia ser contínua, se a pressão oncótica das proteínas plasmáticas do leito vascular não recuperasse os líquidos do espaço intersticial de volta para o espaço intracapilar. O movimento e a distribuição de fluídos no organismo depende do balanço de quatro fatores, que governam a direção e quantidade de líquidos que são movidos e/ou mantidos nos vários locais, esses fatores são: a pressão hidrostática do capilar, a pressão hidrostática intersticial, a pressão coloidosmóstica do capilar e a pressão coloidosmótica intersticial (tabela 11.1).
A pressão hidrostática capilar é iniciada e mantida pela força mecânica do coração. Embora a pressão hidrostática capilar caia aprecialvelmente no lado arterial dos capilares para 30mmHg, esta pressão excede a pressão hidrostática intersticial, que é de 8mmHg. As proteínas plasmáticas, principalmente a albumina, contribuem para a pressão coloidosmótica do sangue. Esta é de aproximadamente de 25mmHg no lado arterial do leito capilar; a pressão coloidosmótica do líquido tissular é de aproximadamente 10mmHg. Deste modo, no leito capilar arterial há uma pressão resultante de 7mmHg, também chamada de pressão 0 de filtração, a favor do líquido para o tecido. No lado venoso há uma queda na pressão hidrostática capilar para 17mmHg, sendo que as demais pressões mantêm-se aproximadamente nos mesmos valores. A pressão resultante desta vez ocorre a favor da entrada de líquido para o interior dos vasos, em torno de 6 mmHg, também chamada de pressão de reabsorção. A reabsorção movimenta, de volta para o leito vascular, cerca de 90% do líquido filtrado para o tecido conjuntivo. Os 10% restantes do líquido que não retorna para o leito vascular desequilibrariam essas correlações entre a filtração e a reabsorção, se fosse permitido a esse fluído a sua permanência no interstício. Para evitar este problema, o líquido e a pequena quantidade de proteínas, resultante desta diferença de 1mmHg entre a filtração e a reabsorção, são devolvidos para a circulação geral por meio dos vasos linfáticos.
Alterações nas trocas de fluídos
Numerosos fatores podem influenciar e alterar o delicado equilíbrio que existe entre os componentes líquidos dos compartimentos do sistema vascular, do sistema linfático e do tecido conjuntivo. Alterações como ingestão excessiva ou inadequada de água, desequilíbrio eletrolítico, deficiência de proteínas, processos inflamatórios e doenças sistêmicas podem se manifestar na troca de uma perturbação generalizada do equilíbrio fluído. O edema é a retenção e o subseqüente acúmulo de líquido tissular, resultante da transformação da pressão hidrostática intersticial em positiva. As condições edematosas sistêmicas e/ou regionais não ocorrem facilmente. Como manifestação clínica, o edema geralmente é resultado de sérios processos patológicos. Dois mecanismos específicos proporcionam uma margem de segurança para o acúmulo de fluídos. A substância fundamental, representada pela propriedade intrínseca de absorção do tecido conjuntivo, pode absorver cerca de 30% de líquido além do seu conteúdo normal. O mecanismo de fluxo linfático proporciona uma margem de segurança adicional. Este fluxo é influenciada pela pressão hidrostática intersticial negativa, pelo bombeamento dos capilares linfáticos e pelo mecanismo de arrastamento de proteínas intersticiais pela água. O sistema de fluxo linfático gera um mecanismo que requer um aumento de 70% da pressão hidrostática capilar antes que o edema seja observado. Ainda é necessário que haja uma redução aproximada de 70% da pressão coloidosmótica do capilar antes que seja atingida uma condição edematosa. Apesar destes fatores de segurança, o edema ocorre. Quatro mecanismos básicos provocam a formação excessiva de líquido tissular:
a. obstrução linfática
A obstrução linfática influencia este processo em duas vias. Inicialmente a obstrução linfática impede o retorno do líquido tissular para a circulação, resultando no aumento gradual e contínuo de líquidos no tecido conjuntivo. Isto aumenta a pressão hidrostática do líquido tissular. Ocorre também uma acumulação progressiva de proteínas no tecido conjuntivo. As proteínas elevam a pressão coloidosmótica do tecido conjuntivo, resultando numa tendência para atrair e reter mais água. As causas podem incluir linfangite e linfadenoma, tumores e/ou metástases, abcessos e extirpação cirúrgica de cadeia linfática.
b. aumento da permeabilidade capilar
Elevação da permeabilidade capilar resulta no vazamento de plasma para o compartimento do tecido conjuntivo. A elevada pressão coloidosmótica intersticial devido ao excesso de proteínas no tecido conjuntivo provoca o aumento da quantidade de líquido tissular. O fato mais significante é a diminuição da capacidade do sangue para atrair a água de volta para os capilares. As causas podem ser processos inflamatórios, reações alérgicas, substâncias tóxicas e venenos e queimaduras.
c. diminuição da pressão oncótica capilar
A baixa da pressão coloidosmótica está associada à baixa concentração de proteínas plasmáticas. Este tipo de deficiência resulta na diminuição da habilidade do sangue de remover fluídos do tecido conjuntivo. A hipoproteinemia pode ser resultado de distúrbios hepáticos, perda excessiva de proteínas na urina (distúrbios renais), desnutrição protéica, perda excessiva de proteínas pelo tubo digestivo e parasitismo.
d. aumento da pressão hidrostática capilar
A obstrução venosa resulta na elevação da pressão hidrostática capilar. Quando a pressão hidrostática excede a pressão coloidosmótica capilar, os líquidos são retidos no tecido conjuntivo. A elevação da pressão hidrostática capilar pode resultar de insuficiência cardíaca congestiva ou estase portal, inflamação ou obstrução dos vasos, compressão com bloqueio dos vasos por tumores ou nódulos, aumento da resistência pulmonar e colocação apertada de bandagens.
Os derrames cavitários são denominados de acordo com o local de formação e classificados conforme o tipo de líquido (características físicas, químicas e citológicas) em transudato puro, transudato modificado e exsudato.
Referências: